Futebol e silicone

Num mundo siliconado, o futebol não escapa da mediocridade. Os últimos campeonatos brasileiros foram desfiles de equipes de estufa e laboratório, com o pragmatismo e a estratégia espremendo o talento e a arte. Apogeu da caretice. Volantes. Zagueiros. Bolas paradas. Retrancas. Um contra todos, isolado no ataque. É sintomático que o goleiro seja o maior ídolo do clube tricampeão brasileiro, sendo inclusive o responsável pelas cobranças de falta.


O pináculo da carretice foi a seleção brasileira derrotada na Copa de 2010. Mas, apesar do revés, o projeto carola se mantém como carta de navegação do futebol brasileiro. Os Muricys, Parreiras, Dungas, Manos são os timoneiros do desencantamento, germanizadores da brasilidade futebolística.


Um treinador de futebol é sobretudo um bedel interessado em fiscalização e controle, um impertinente. É de se pensar a possibilidade de extinção dessa figura afeita a decretos e burocracias. Apologistas dos ensaios e bolas paradas, os treinadores são o silicone que corrompe o movimento e a espontaneidade, são os coveiros da alegria.


Futebol se aprende em qualquer beco, calçada, portão; e se desaprende nas escolinhas, peneiras. Futebol é fluência e leveza, faz-se por si mesmo, é improviso. A burocracia é a negação da fluência, da leveza e do improviso. É uma lombada antiartística. O futebol brasileiro está se burocratizando. Os pontas murcharam. Os zagueiros se multiplicam como o tráfego. O talento é mutilado, prostituído, transformado em engrenagem. A inflação burocrática corroeu o valor da camisa dez.


Os garotos nascem atacantes e crescem sendo recuados da ponta para lateral, da meia para a zaga e assim vai. O talento regride, burocratiza-se. A categoria totalidade foi expulsa da filosofia e dos gramados. Os grandes meias foram trocados por pranchetas, bolas paradas e jogadas ensaiadas.


O futebol tornou-se pornográfico, perdeu a magia e o encantamento, foi enlatado. Virou filme de roteiro batido. Virou moleque estudioso, que faz lição de casa e acorda cedo. Silicone, fast food e futebol retranqueiro têm tudo a ver.   

Um comentário:

Dani disse...

Isso sim é futebol, de rir e chorar...
http://www.youtube.com/watch?v=ASBIVvT7IPk
http://www.youtube.com/watch?v=SFP6SdBEhig&feature=related

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