Notas conjunturais

O tacho capitalista entornou. O caldo pestilento da crise escorre pelo mundo. Do Oriente Médio a Israel, dos EUA à Espanha, e até debaixo da saia da rainha mãe.

Dinheiro não nasce em árvore e nem de semente transgênica. A teoria econômica ainda serve para alguma coisa, apesar dos economistas do establishment. Não era difícil prever o resultado das medidas anticrise de 2008, os estados se endividaram até o nariz para salvar seus capitalistas da bancarrota, três anos depois estão todos se afogando: estados, capitalistas e, principalmente, trabalhadores. Não há grandes novidades na teoria da crise, apesar das palavras pomposas repetidas pelos economistas, como o substantivo feminino recidiva, sinônimo de recaída. Os apologéticos de plantão não resolveram a crise, mas a palavra bonita para definir o segundo momento da tormenta já está na praça: recidiva.

É sabido que os canhões e bombas da segunda guerra mundial foram a solução de continuidade do capitalismo em crise; apesar de Keynes e de sua teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Atualmente a burguesia não dispõe de um Keynes, mas resta-lhe sua máquina de guerra. Afeganistão, Iraque e Líbia na mira do fuzil. E virão outros.

Na Líbia os serviços secretos ocidentais armaram dúzias de mercenários, deram-lhes o nome de rebeldes e desfecharam o ataque petroleiro. Depois acusaram o governo líbio de reprimir seu próprio povo. Esperaram semanas. Quando a rebeldia dos seus rebeldes se mostrou insuficiente para garantir o ouro negro, aviões e bombas da otan foram despachados para liquidar a peleja.

Mas a crise é uma serpente traiçoeira, está no quintal e no berço das crianças. A Inglaterra condena a repressão de todos os governos que não lhe agradam, se cala sobre a repressão de todos os governos que lhe agradam e agora se vê obrigada a reprimir em seu próprio solo. Pau que bate em Chico também bate nos súditos da rainha. Virão jatos de água, cassetetes e o exército se necessário.

Desemprego, racismo e desigualdade social são varridos para baixo do tapete. Os rebeldes ingleses foram definidos como vândalos, só. O combate é antes de tudo semântico. Conta pouco o assassinato de um jovem negro pela Scotland Yard, que é a mesma polícia que liquidou um brasileiro inocente com sete balaços na cabeça. Mas a crise dificulta inclusive a manipulação. Na terra da rainha e de Huxley já não dá para omitir uma verdade: a crise chegou. Admirável Mundo Novo. A crise é para inglês ver.

O rei está nu, a rainha, só de calcinha.

JC

Um comentário:

JOHNNY disse...

Olá Julio,
Gostoso e triste ler exatamente o que não está sendo abertamente questionado na mídia. Abraço.