PLANO PILOTO
Para Lúcio Costa e Oscar Niemeyer

Cidade mineral,
inorgânica e sólida,
procuro tuas nervuras,
mas és lisa.

Não tens casca,
nem pombos,
nem juntas ossudas,
apenas blocos.

Projeto cerâmico,
talhado à máquina,
decorado simetricamente
com flores de chumbo.

Quero tua fibra,
tua artéria,
mas cega-me
teu verde carvão.

Horizonte sem cerros,
calçadas sem gente,
ruas sem nome,
apenas siglas.

Terreno sem cães,
sem moleques,
sem formigas,
apenas jardineiros.

Tua brisa plástica
seca minhas veias.
Quero teus bares,
mas não os encontro.

Brasília! Brasília!
Tristeza retilínea,
ou cacofonia austral,
ou coice consonantal.


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