DANÇA DA TERRA

movimento
de placas
tectônicas

movimento
sísmico

corte terra
terra morte
movimento

gritos

som de vidro
estilhaçando

ossos
dos mortos
bailando
debaixo
da terra

terremoto

baile
da morte

moto
mortis





Um olhar livre sobre a arte de Antanas Sutkus

Chegou a São Paulo a exposição de fotos Antanas Sutkus: um olhar livre.  Sutkus fotografou a vida cotidiana na Lituânia entre 1950 e 1990 (época em que a Lituânia era parte da URSS).

O cotidiano nos mal chamados países do socialismo real me intriga. Penso em filmes como A Vida dos Outros e Adeus Lênin, penso na literatura de Milan Kundera. Uma das personagens mais fascinantes de Kundera é a pintora Sabina, que emigrou da então Tchecoslováquia para a Europa Ocidental. Sabina diz: “Meu inimigo não é o comunismo, meu inimigo é kitsch!” 

Mas o que é o kitsch? Kundera diz: “O kitsch é um biombo que dissimula a morte.” Se é assim, o kitsch está em todos os cantos, inclusive no mundo capitalista, porque a morte é onipresente.

E o que é um olhar livre? Existe um olhar preso? Algemado? Quando li o título da exposição pensei que seria mais da mesma campanha anti-socialista de sempre, e em alguma medida é (refiro-me ao título da exposição e não ao trabalho exposto). Sutkus é apresentado como alguém que resistiu ao comunismo, dizem que arte do fotógrafo não cabia no realismo socialista, e não cabia mesmo. Mas também Sutkus poderia dizer que seu inimigo não é o comunismo, é o kitsch.

O olhar livre de Sutkus escreve uma história do olhar, como se o fotógrafo quisesse se ver nas retinas das pessoas fotografadas. Os visitantes têm a sensação de estarem sendo encarados pelas fotografias, se vêem nas retinas das pessoas fotografadas. O que querem dizer os olhos daquelas mulheres, crianças e homens da Lituânia? Quantos estão vivos? Quantos morreram? Talvez seja esta a chave para compreender o mistério. Sutkus diz: “Uma missão muito importante para o fotógrafo é capturar e preservar coisas que vão inevitavelmente desaparecer.” Desesperados ou tranquilos, envelhecidos ou infantis; os olhares fotografados estão condenados desaparecer.

O título um olhar livre induz a olhar para o olhar do fotógrafo, o desafio é olhar nos olhos dos fotografados.

PS.: Como está no título, este é apenas um olhar livre (pessoal) sobre a arte de Antanas Sutkus, certamente outros olhares são possíveis. Abaixo três fotos de Sutkus. A exposição Antanas Sutkus: um olhar livre ficará na Caixa Cultural de SP até 21.04.2013. Endereço: Praça da Sé, 111, Centro, São Paulo/SP. De terça a domingo, das 9h às 20h.



Província. Dzukija, 1969


Família lituana. Pediskiai, 1967


No Mar Báltico. Giruliai, 1972