PARA GREGOR SAMSA
calor
verão
muitas baratas
menos a da vizinha
A GRANDE ADÚLTERA
Emma
Bovary provoca paixões violentas, a favor e contra. A favor: o escritor Mario
Vargas Llosa [1] e mais alguns. Contra: o Ministério Público Francês e o
promotor Ernest Pinard, que levaram Gustave Flaubert para o banco dos réus por ofensa
à moral e aos bons costumes. Componho o primeiro grupo. Foi paixão à primeira
leitura. Talvez por saber, desde o início, que o destino dela seria trágico, e
por constatar, a cada página, que ela não recuaria. Vale pontuar que Emma
Bovary era grande leitora de romances, também ela sabia o destino reservado às
adúlteras. Enfim. Sempre que posso, retorno ao romance de Flaubert. Costumo ler,
também, o que encontro sobre a Madame.
Num
sebo, procurando livros na seção de crítica literária, encontrei Os ovários
de Mme. Bovary, de David Barash e Nanelle Barash [2]. Comprei, li e
recomendo. São dez ensaios que analisam obras literárias com instrumental
darwiniano. Os autores passam por Jane Austen, Shakespeare, Faulkner,
Dostoievski, Joyce, Philip Roth, Flaubert e outros. Os ovários de Mme Bovary...
Uma sacada provocativa, explicita a ideia que perpassa todos os ensaios: a
biologia tem muito a dizer sobre o comportamento humano, seria “uma chave [...]
que abre mais portas, dá acesso a mais lugares e lança mais luz do que qualquer
de suas alternativas menos versáteis”. Os autores não se arriscam a ponto de afirmar
que a biologia explica totalmente a literatura, sabem que os seres humanos são
animais culturais, com imaginação e intelecto. Mas lembram, por outro lado, que
não é por ter imaginação e intelecto que os homens deixam de ser animais. Se é
assim, seria possível “encontrar raízes na biologia, o leito comum que todos os
seres humanos compartilham com focas, alces, gorilas e grande parte do mundo
animal”.
Por
meio da Madame Bovary, de Flaubert, David Barash e Nanelle Barash discutem “a biologia
do adultério”. Afirmam, por exemplo, que pesquisadores analisaram diversas
espécies e perceberam que, em alguns casos, 70% das crias nascem de traições,
ou seja, de relações extraconjugais. Emma Bovary, por exemplo, teria ouvido um
sussurro darwiniano subliminar que lhe provocou comichão nos ovários,
empurrando-a para a cama com Rodolphe e Léon. Os autores vão mais longe. Argumentam
que a tendência à infidelidade da Madame Bovary aumentou quando o marido sofreu
um revés profissional. No que ela se aproximaria das fêmeas de chapim-real, que
geralmente são fiéis, mas às vezes traem os parceiros, especialmente quando eles
fracassam socialmente. De acordo com os autores, a ausência de inclinação para
a maternidade também pode ter aumentado a tendência à infidelidade de Emma
Bovary, que pouco se preocupava com a filha.
É
interessante reler a personagem de Flaubert a partir dos ovários. Mas, para
mim, que sou do time dos apaixonados por ela, a interpretação biologizante
pareceu insuficiente e até desrespeitosa com a adúltera, como se a rebaixasse.
Onde David Barash e Nanelle Barash enxergam a “biologia do adultério”, vejo “a
poesia do adultério”. Curiosamente, o promotor que acusou Flaubert concorda
comigo. A expressão “poesia do adultério” é dele, que, além disso, definiu o
romance como “uma pintura admirável sob o ponto de vista do talento, mas uma
pintura execrável do ponto de vista moral.” [3] Detalhe. Vargas Llosa
lembra que o promotor que acusou Flaubert por ofensa à moral e aos bons
costumes escrevia, secretamente, versos pornográficos...
Emma
Bovary era uma leitora incansável: “mesmo à mesa levava um livro e virava as
páginas enquanto Charles comia e falava-lhe” [4]. Flaubert
informa que, após a primeira traição, ela lembrou-se das heroínas dos livros
que lera, aquela legião lírica de mulheres adúlteras tomou-lhe a memória de
assalto, como irmãs que a seduziam. Realizou, então, o longo devaneio de
juventude e se tornou uma mulher apaixonada. Além disso e ao mesmo tempo, sentiu-se
vingada. Sofrera muito. Mas, finalmente, triunfava. O amor, por tanto tempo
reprimido, “jorrava alegremente em alegre efervescência.” [5] Se é assim,
por mais provocativa que seja a ideia, não dá para limitar Emma Bovary aos
ovários.
Mais
interessante do que explicar as paixões de Emma Bovary é pensar por que ela
continua apaixonante um século e meio depois da publicação do romance. Como
explicar o amor pela personagem de Flaubert? O que dizer da paixão dos
leitores, como eu, por uma adúltera sem ovários, posto que é uma personagem? Será
que, inconscientemente, gostaríamos de fazer amor com ela? Transmitir nosso
material genético para a posteridade junto com ela? Se fosse isso, ponto para o romancista, que teria
irritado o Ministério Público, iludido a seleção natural e despertado a atração
sexual dos leitores por uma personagem. Mas não é por aí. O instrumental da
biologia é insuficiente para explicar por que amamos Emma Bovary. Ela apaixona
devido à escrita de Flaubert [6], que recorta e reorganiza a realidade, reposicionando
e revalorizando objetos (leques, buques, frascos de perfume) e partes do corpo
humano (mãos, unhas, pulsos). O romancista humaniza as coisas e coisifica as pessoas,
exceto a personagem principal, que se destaca. Mas não é só isso. Emma Bovary
apaixona, sobretudo, por suas apologias e rechaços: sim para os livros, sim
para os sonhos, sim para a imaginação, sim para o amor; não à filha, não ao
marido, não ao casamento, não à monogamia e, seguindo por esse caminho, não ao
patriarcado. Ela afirma e recusa ao mesmo tempo e com a mesma radicalidade.
Morreu com um “riso atroz, frenético, desesperado.” [7] Acrescento:
desespero libertador dos que não esperam absolutamente nada.
Emma foi uma
leitora que teve contato, pelos romances, com uma legião lírica de adúlteras.
Ela certamente conhecia o destino reservado às senhoras que amam fora do
casamento. Que seja difícil, quase impossível, amar dentro do casamento, não alivia
a condenação dela e das demais. O destino de Emma Bovary é parecido com o de
Ana Karenina e tantas que as precederam. Mas ela não se intimidou. Vargas Llosa
[8]: “Emma quer gozar, não se conforma em reprimir em si essa profunda
exigência sensual que Charles não consegue satisfazer porque nem sabe que
existe.” Se é assim, a personagem de Flaubert pode ser considerada uma espécie
de feminista avant la lettre. Além disso, ela foi liquidada por um
agiota e pelo patriarcado, mas não costuma contar com a simpatia nem dos
setores progressistas. Provavelmente porque sua recusa é demasiadamente
radical: rebelou-se contra a maternidade (“como essa criança é feia” – murmurou
ao lado da filha, que dormia), arruinou as finanças familiares, amou fora do
casamento (“sem remorsos, sem inquietude, sem desassossego”) [9].
Mas a leitora incansável
devia morrer porque ousou ser ousada. Seus amantes seguiram suas vidas
normalmente. A poligamia lhes era permitida. Eles dormem enquanto o corpo dela
é velado: “Rodolphe, que para distrair-se andara o dia todo, dormia
tranquilamente em seu castelo; e León, lá em Rouen dormia também.” [10]
Ela se despede da vida. Eles não se despedem dela.
A
palavra adultério vem do latim adulterĭum, no sentido de traição, mas também
como mudança e alteração. Na terceira parte do romance A insustentável
leveza do ser, intitulada As palavras incompreendidas, Milan Kundera
[11] discute a traição a partir da pintora Sabina, que é legitima
integrante da legião lírica de mulheres adúlteras, uma espécie Madame Bovary da
Boêmia: “A traição. Desde nossa infância, papai e o professor nos repetem que é
a coisa mais abominável que se possa conceber. Mas o que é trair? Trair é sair
da ordem. Trair é sair da ordem e partir para o desconhecido. Sabina não
conhece nada mais belo do que partir para o desconhecido.” Contra Emma Bovary joga
a moral cristã a ensinar que a carne não vale, que sexo é pecado, que a mulher
deve ser submissa, que é preciso se arrepender. Ela trava um combate desigual
contra a culpa, a submissão, o arrependimento e a repressão sexual. Que Emma
tenha traído o marido porque sentiu comichão nos ovários é apenas uma parte da
história. É preciso lembrar que ela foi uma leitora que disse não, que não
cabia numa sociedade provinciana ao lado de um homem medíocre. Por tudo isso,
vejo Emma Bovary para além dos ovários: é a grande adúltera no melhor sentido
da palavra – como mudança e alteração, como quem sai da ordem e parte para o
desconhecido. Evoé, Madame Bovary!
Notas
[1]
Mario
Vargas Llosa. A orgia perpétua – Flaubert e Madame Bovary. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2015.
[2]
David
P. Barash e Nanelle R. Barash. Os ovários de Mme. Bovary – um olhar darwiniano
sobre literatura. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2006.
[3]
As palavras do promotor que acusou Flaubert foram citadas por Vargas Llosa, na
edição referenciada na nota 1.
[4]
Gustave
Flaubert. Madame Bovary. Porto Alegre: L&PM, 2016.
[5]
O
trecho entre aspas está no romance de Flaubert, na edição referenciada na nota anterior.
[6]
Emma
Bovary: a condenação perpétua
[7]
O
trecho está no romance de Flaubert, na edição referenciada na nota 4.
[8]
O
trecho está no livro referenciado na nota 1.
[9]
Os
trechos entre aspas estão no romance de Flaubert, na edição referenciada na
nota 4.
[10]
O
trecho entre aspas está no romance de Flaubert, na edição referenciada na nota 4.
[11] Milan Kundera. A insustentável leveza do ser. São Paulo: Companhia das letras, 2008.
Publicado originalmente no Passa Palavra
SANTO
Um homem, afinal de contas, não devia
conhecer tudo, sobressair-se em múltiplas atividades, iniciar a mulher nas
energias da paixão, nos refinamentos da vida, em todos os mistérios? Mas aquele
ali não lhe ensinava nada, não sabia nada, não desejava nada. Achava que era
feliz; e ela o detestava por aquela calma tão assentada, por aquele peso
sereno, pela própria alegria que ela lhe dava.
(Gustave Flaubert -
Madame Bovary)
Estava no túnel de
entrada para o segundo tempo da vida. Havia se acostumado com o substantivo
masculino senhor. Em algum momento, talvez no terceiro quarto do primeiro tempo
da vida passou, precocemente, a ser chamado de senhor. Não se incomodava. Era
casado, tinha duas filhas e usava roupas discretas: sapatos e cintos da mesma
cor, camisas por dentro da calça, blusas de lã com gola v. Mas, como registrou
um escritor um pouco anterior ao nosso tempo: um dia surge o “por quê e tudo começa a entrar numa lassidão
tingida de assombro.”
Era bancário.
Fazia pagamentos e transferências. Os valores que movimentava na agência
faltavam-lhe no bolso. Geralmente ficava sem dinheiro no meio do mês. Usava o
cheque especial com a moderação permitida pela correlação de forças familiares.
Na economia doméstica, ele era neoliberal, enquanto a mulher e as filhas eram
neodesenvolvimentistas. Ele defendia o corte de gastos e o equilíbrio das
contas. Elas exigiam a ampliação dos investimentos e das despesas sociais.
Aquele lar era um bom exemplo de que as economias familiares não podem ser comparadas
com as economias nacionais.
De manhã cedinho o
cão o levava para passear. Às seis em ponto o animal corria e latia no quintal.
Davam voltas no quarteirão até o cachorro se aliviar. Recolhia as fezes do
animal e as depositava no cesto de lixo, devidamente embrulhadas. Daí seguiam
para a padaria. Amarrava o cachorro e comprava pães para o café da manhã.
Depois deixava as filhas no colégio e seguia para o banco. Às vezes fazia horas
extras. Nesses dias ajudava a preparar o jantar, lavava a louça e dormia.
Quando chegava no horário normal, aproveitava para assistir TV com a família.
Não gostava de novelas, mas elas o faziam relaxar e esquecer o dia a dia, além
de proporcionarem algum contato com a mulher e as filhas, que exigiam silêncio
quando ele puxava assunto. Às vezes se repreendia por falar sempre na hora
errada. Às vezes se retirava e ia para o quintal brincar com o cachorro, se
acalmava e voltava. Era o melhor amigo do cão. Às vezes tentava colocar o animal
dentro de casa, mas era repreendido pela esposa. Se pudesse, pelo menos,
acompanhar a novela junto com o cão... Às vezes tinha vontade de assistir
telejornais e programas esportivos, mas declinava para não contrariar a esposa
e as filhas. Nem cogitava a possibilidade de assistir telejornais e programas
esportivos no quarto, longe da mulher e das meninas.
Duas vezes por
semana buscava as filhas no balé. Não se incomodava com o trânsito parado. Mas,
nas apresentações semestrais, no ginásio do clube, esforçava-se para não
cochilar, e aplaudia coreografias que não entendia. Pensava ser a desvantagem
de ter filhas. Assistir um filho jogando futebol talvez fosse mais interessante
– cogitava sem muita convicção. Queria tentar mais uma gravidez, quem sabe
viesse um menino, mas a esposa não aceitava.
Aos sábados fazia
pequenas manutenções na casa. Sempre sob supervisão crítica da esposa, que
reclamava das limitações dele como reparador de interiores e exteriores. Ela
dizia que qualquer homem da família dela faria o mesmo trabalho melhor e mais
rápido. Ele trocava o telhado, pintava a fachada, limpava a caixa d’água,
consertava o portão automático. À noite saía com a família. Deixava a mulher e
as filhas escolherem o restaurante, em geral elas escolhiam algum shopping da
cidade, para jantar e ir ao cinema. Ele não se incomodava com as filas e a
lotação, nem se irritava com a dificuldade para estacionar. Elas desciam e
faziam compras enquanto ele esperava aparecer alguma vaga no estacionamento,
assim a mulher e as filhas aproveitavam melhor os passeios. Além de fazer
compras, elas gostavam de filmes de ação. Ele não tinha preferências. Quando
enjoava dos filmes que elas escolhiam, se escondia atrás dos óculos 3D e
dormia. As filhas diziam que o pai vivia cansado, que só dormia. Ele concordava
e ria: era verdade!
Aos domingos
jogava futebol. Mais importante era papear com amigos depois da pelada. Mas
tinha pouco tempo. Almoçava na casa da sogra. Era sempre o primeiro a deixar o
clube. Saía antes de terminarem as primeiras cervejas. Porque começava a sentir
dores nos joelhos e tinha que almoçar na sogra, pensou em largar o futebol.
Apesar de não atrasar mais que quinze minutos, quando chegava na casa da sogra
era lembrado de que o almoço já estava pronto, sendo interpelado por olhares
inquisidores. Elas perguntavam por que ele continuava correndo atrás de bola,
se já não tinha mais idade.
Nos almoços
dominicais, depois do macarrão vinha um assado, frango ou carne de boi, mais
raramente costelinhas de porco; depois do macarrão e do assado vinha a
sobremesa, geralmente pudim de leite condensado, porque as meninas gostavam;
depois da sobremesa vinha o café; depois do café vinha o dominó, que jogavam
até anoitecer, deixava a sogra e as filhas ganharem. Alegrava-se com a alegria
delas.
Nos aniversários
era sempre ele que puxava a parte do “e pra fulana nada”, ao que as demais
respondiam “tudo”, ele perguntava “então como é que é?”, e elas retrucavam com “é
pique, é pique, é pique, é pique, é pique.” É graças a homens como ele que, em
nenhuma mesa e em nenhum salão, nunca o “parabéns pra você” parou no meio por
falta de alguém que emende o “e pra fulano nada?”. Estranho acordo ontológico, mesmo sem nenhum
contato prévio e sem nenhum treinamento, sempre haverá alguém para dizer “e pra
fulano nada”. O que faz um homem saber que chegou a sua vez de ser protagonista
no “parabéns pra você”? Seja como for, o fato é que tais homens são as vigas de
sustentação das famílias.
Quando as filhas
brigavam porque uma queria ir ao shopping e a outra à pizzaria, ou porque uma
não queria que a outra usasse suas roupas, ou porque uma acusava a outra de
bagunçar o quarto, ou porque uma dizia que a outra tinha comido todo pudim de
leite condensado: ele intervinha. Explicava calmamente que elas eram irmãs e precisavam
se entender, que uma tinha razão, mas a outra também, que o papai amava as duas
igualmente. Não raro acontecia das irmãs, com apoio da mãe, se juntarem contra
ele. As brigas nunca começavam com ele, mas costumavam se virar contra ele:
como se o pai fosse culpado pelos desentendimentos e por todos os problemas da
família e do mundo. Era como culpar um pernilongo por uma hemorragia. Ele
desconhecia a comparação, mas certamente estaria disposto a aceitar que um
pernilongo pode causar uma hemorragia, especialmente se fosse para acalmar os
ânimos familiares. Ele era um pernilongo que nem picava nem fazia barulho, mas,
às vezes, mulher e filhas tinham vontade de esmagá-lo com as mãos.
Vendeu um dos
carros para bancar a lipoaspiração e o silicone da esposa. Ficou sem o veículo
que usava para se locomover, mas a alegria da mulher compensou com vantagem o
esforço para enfrentar o transporte público, mesmo nas épocas de chuva. O que
era um sapato molhado durante todo o dia perto da alegria da esposa? O que eram
duas horas chacoalhando nos coletivos perto da felicidade dela? Podia ouvir
música pelo fone. Usava o tempo disponível para pensar na família e planejar o
futuro.
Com a cintura
fina, as pernas torneadas, os peitos duros e duas horas diárias de academia, a
esposa passou a implicar com a barriga dele. Havia tantos homens que estavam
melhor que ele, uns 60 só no clube – pelas contas dela. Um homem que não se
cuida não merece uma mulher bem cuidada – dizia a esposa. Ele concordava e
prometia se matricular na academia, ou, pelo menos, comprar uma bicicleta
ergométrica e um banco de supino. Faltava-lhe tempo e energia. Mas sabia que
ela tinha razão. Desconfiava, inclusive, que no clube havia mais de 60 homens
que estavam melhor que ele, o número era arbitrário, bondade e complacência da
esposa. Sentia ciúmes dos homens que estavam melhor que ele, especialmente
aqueles 60 ou mais. Sonhar com o barulho de pernilongo pode significar que há
pernilongos no quarto. Mas ele tinha certeza de que a mulher nem reparava nem
se interessava por outros homens, se falava deles era para incentivá-lo a se
cuidar. Estava realmente barrigudo e fora de forma. Ela tinha razão. Estava
corretíssima.
É verdade que
reparava em outras mulheres. Nutria algum interesse por dormir com outra
mulher. Era o invariável desejo de variar. Inclusive porque a esposa foi a
primeira e a única namorada dele. Mas o receio de magoar a mulher e as filhas o
continha. O risco não compensava o investimento – pensava aquele trabalhador da
área financeira. Sou casado, minha vida é boa, não posso arriscar – dizia para
si próprio. Foi legítimo herdeiro da tradição inaugurada por Charles Bovary,
apesar de não conhecer literatura nem ter tempo para livros. Enfim. O bovarismo
– entendido como alteração do senso de realidade – foi pensado a partir de Emma
Bovary, mas é preciso estudar o fenômeno também a partir de Charles Bovary.
Certa vez precisou renovar documentos e certidões. Pediu liberação do trabalho no período da manhã e agendou a visita ao posto de atendimento. Passeou com cão. Comprou os pães. Foi a pé renovar os documentos e as certidões. Era a primeira quebra de rotina em muitos anos. Constatou que as ruas em que crescera estavam lotadas de edifícios e automóveis. No posto de atendimento foi solicitado a confirmar as informações pessoais anotadas pela atendente. Data de nascimento: correto. Pai: correto. Mãe: correto. Estado civil: correto. Cor dos olhos: correto. Cabelos... Grisalhos? Foi quando surgiu-lhe o por quê. Sentiu, espantado, a passagem do tempo, como se tivesse ficado grisalho naquela manhã. Por que o tempo passa tão rápido? Convivia com o substantivo senhor, mas era a primeira vez que se deparava com o adjetivo grisalho. Tinha algumas dezenas de cabelos brancos, era fato, mas nunca havia sido chamado de grisalho.
Publicado originalmente no Passa Palavra
BOZOCHANCHADA
Nas
décadas de 1970 e 1980, o cinema brasileiro produziu filmes que ficaram
conhecidos como pornochanchadas. Os títulos são sintomáticos: Os mansos;
Memórias de um gigolô; Vítimas do prazer; A virgem e o machão; Caçadas eróticas;
Sexo a domicílio; Senta no meu, que eu entro na tua; Ônibus da suruba. Chanchada
tem a ver com humor ingênuo e popularesco. Pornochanchada eram comédias
eróticas que exibiam corpos femininos com a regularidade necessária para prender
a atenção do público. Eram tempos de ditadura empresarial-militar, censura,
moralismo e repressão. Mas as pornochanchadas passavam nos cinemas e rivalizavam
com os filmes estrangeiros. Faziam um sucesso razoável, talvez por serem uma
espécie de espelho privilegiado da sociedade brasileira.
As
comédias eróticas fazem uso de personagens caricatos: a virgem, a adúltera, o
machão, o corno, o cafajeste, o canalha. É aqui que me ocorreu a comparação.
Bolsonaro parece um personagem de pornochanchada. Daí o moralismo, a
desfaçatez, a pilantragem, as idas e vindas, o entreguismo, a cara de pau. O
próprio apelido, Bozo, além do jogo de palavras com Bolso, remete a um palhaço
e a um tipo discutível de humor. Procurando na internet, percebi que a
semelhança foi notada, também, por Xico Sá:
“Bolsonaro é típico personagem da pornochanchada brasileira”. O cronista, como
eu, deve ter pensado nos delegados, advogados e empresários canalhas das comédias
eróticas. Bolsonaro é uma síntese de todos eles.
Mas
como a vida supera a arte, o personagem caricato se tornou presidente do
Brasil. Salvo engano meu, que não sou grande conhecedor de pornochanchadas,
nenhum roteirista, nem o mais ousado, imaginou um personagem grotesco ocupando
a presidência da república, inclusive porque a comédia erótica se tornaria uma
tragédia generalizada.
No
final dos anos 1980, com a crise do cinema brasileiro e a chegada da
pornografia stricto sensu, as pornochanchadas perderam espaço. Mas a
sociedade espelhada nas comédias eróticas pouco mudou, o que ajuda a explicar
Bolsonaro, figura caricata que soube aproveitar as oportunidades que surgiram.
As
falas e posturas autoritárias, machistas, racistas, homofóbicas e moralistas de
Bolsonaro parecem extraídas de uma pornochanchada. O que talvez explique por
que os posicionamentos não chocam boa parte da sociedade brasileira, que pode
não dizer exatamente as mesmas coisas, mas pensa parecido, porque foi educada e
limitada pelo mesmo referencial estético e ideológico. Exemplo: a fixação
bolsonarista por fezes, bundas e armas de fogo já estava no filme Um
pistoleiro chamado Papaco. O que indica que as linhas gerais do
bolsonarismo existiam na sociedade brasileira há tempos.
Para
quem quiser ter uma ideia da comparação que tento estabelecer sem precisar assistir
muitas pornochanchadas, recomendo o excelente Histórias que o nosso cinema
(não) contava, da diretora Fernanda Pessoa, que montou o filme a
partir de recortes extraídos de 27 comédia eróticas. Está tudo lá: o
autoritarismo, o machismo, a homofobia, o entreguismo, o moralismo, o humor
discutível e até o medo da esquerda e do socialismo.
Nos
anos 1990 as pornochanchadas haviam perdido espaço e deixaram de ser filmadas,
mas eram exibidas nas sessões eróticas da madrugada, na TV aberta. Muita gente
cresceu assistindo os filmes com volume baixo, para não acordar os familiares.
Às vezes perdendo trilhas sonoras interessantes. Algumas atrizes das novelas
voltavam mais tarde, mais jovens e com menos roupa, nas sessões da madrugada,
para delírio e deleite do público masculino. Tempos depois, personagens como
Bolsonaro ocuparam o horário nobre e escancararam o que, nas pornochanchadas, pareciam
ser possibilidades limitadas e residuais da sociedade brasileira. Bolsonaro
atravessou a fronteira que os personagens das comédias eróticas se limitaram a tangenciar.
Como
pontuou Thiago
Canettieri, o bolsonarismo é, sobretudo, um projeto
de destruição: de instituições e políticas públicas, de vidas e possibilidades.
A destruição bolsonarista precisa ser compreendida como uma possibilidade do
tempo presente, e não como um “desvio atávico na rota do progresso”. Bolsonaro
“joga com a experiência cotidiana do colapso”, é um “realista do colapso”.
Na
minha opinião, o bolsonarismo existe devido à herança escravista da sociedade
brasileira, porque a ditadura empresarial-militar de 1964 não foi passada a
limpo e por aí vai. Bolsonaro é um atavismo mobilizado para atuar em nome da
destruição, um capitão do mato na pós-modernidade. Daí os traços de personagem
de pornochanchada. Mas aqui talvez surja, se não a resposta para a tragicomédia
bolsonarista, ao menos um caminho e uma possibilidade. Bolsonaro é escrachado, bisonho
e trapalhão, atuou como personagem de comédia erótica, suas negociatas e
destruições aparecerão cada vez mais quando ele estiver fora do governo, e não houver
uma tropa de choque institucional com força para protegê-lo. Será uma
possibilidade. Se a sociedade brasileira não passar o atavismo moralista e
destrutivo a limpo, a Bozochanchada vai se repetir atualizada e piorada.
Bolsonaro
destruiu o que pôde, inclusive vidas foram ceifadas antes e, principalmente,
durante a pandemia de Covid-19. O que vai se fazer com ele fora do poder?
Aceitar tudo como se não tivesse acontecido nada? Como se fosse uma sessão de
pornochanchada? Como se tivesse sido uma brincadeira ou algo inevitável? Como
se fosse um desvio perdoável? Esquecer com um grande acordo, à moda brasileira?
Imediatamente após a vitória de Lula, muita gente vestiu camisa vermelha e se manifestou contra Bolsonaro, o “assassino genocida” que governou o Brasil. Não eram só petistas e lulistas, nem eram apenas pessoas com ilusões no novo governo, era um sentimento entalado e desesperado (que não espera muita coisa de Lula e do PT, mas que quer se livrar definitivamente da tragicomédia bolsonarista). É essa energia que precisa ser fortalecida, sustentada e mobilizada para passar a Bozochanchada a limpo. É isso ou será um grande problema. Se a sociedade brasileira não enfrentar seus atavismos, outros personagens de pornochanchada serão mobilizados para promover a destruição. A chance é agora. O tempo é escasso. Se não, amanhã será pior!
Publicado originalmente no Passa Palavra
FORÇAS PRODUTIVAS X RELAÇÕES DE PRODUÇÃO
No
prefácio de Contribuição
à crítica da economia política está um parágrafo famoso e intenso [1], com um trecho que sintetiza, de
certa forma, o pensamento marxista (do próprio Marx e não necessariamente dos
marxistas que vieram depois): “Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as
forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações
de produção existentes, ou, o que não é mais que sua expressão jurídica, com as
relações de propriedade no seio das quais elas se haviam desenvolvido até
então. De formas evolutivas das forças produtivas que eram, essas relações
convertem-se em entraves. Abre-se, então, uma época de revolução social.”
Para
iniciar é preciso definir, minimamente, o que se entende por forças produtivas
e relações de produção. Forças produtivas: capacidade social de gerar valor
própria da força de trabalho. Relações de produção: regime de propriedade,
formas de organização do processo produtivo e de exploração da força de
trabalho.
No
modelo marxista o desenvolvimento das forças produtivas determina as relações
de produção, até que estas entrem em contradição com aquelas, abrindo o tempo
da revolução social. Marx deixou indicações sobre como pode se expressar a
contradição entre as relações de produção e as forças produtivas no capitalismo.
São possibilidades que não se excluem e podem ocorrer simultaneamente:
-
Queda tendencial da taxa de lucro causada pelo desenvolvimento tecnológico e o
crescimento da composição orgânica do capital, movimento que intensifica a
exploração e a luta de classe.
-
Crises periódicas provocadas pela queda da taxa de lucro, acirrando a
exploração e a luta de classes. Vale pontuar, para diferenciar do item
anterior, que as taxas de lucro podem cair por outras razões que não o crescimento
da composição orgânica do capital.
-
Miséria relativa da classe trabalhadora, que apesar de consumir mais
quantitativamente devido ao crescimento da produtividade, fica com parcelas
decrescentes da riqueza social, expropriada em parcelas crescentes pela
burguesia.
-
Estranhamento provocado pela separação dos produtores em relação aos meios de
produção, ou, dito de outra forma, pelo não reconhecimento dos trabalhadores nos
produtos do trabalho, que lhes aparecem como entidades estranhas, hostis e que
se voltam contra seus produtores.
Como
não poderia deixar de ser, o pensamento de Marx provocou diversas
interpretações e possibilidades. Cito algumas:
-
Há quem enxergue uma inevitabilidade na revolução, como se o capitalismo fosse
morrer de velho, sem a ação revolucionária da classe trabalhadora. Leitura
apressada de um trecho presente no mesmo parágrafo de Marx, segundo o qual as
forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam
condições para resolver antagonismo entre as classes sociais. Quem vai por este
caminho esquece que criar condições não é necessariamente resolver, além de que
a força de trabalho é elemento central das forças produtivas e, sendo assim, a
contradição se dá, sobretudo, entre as relações de produção capitalistas e o
proletariado. A força de trabalho é inseparável dos corpos dos trabalhadores,
ou seja, o processo produtivo destrói quem trabalha. Basta pensar, por exemplo,
nas doenças laborais e no desgaste causado pela intensificação do trabalho.
-
Há quem considere que as forças produtivas não são neutras, ou seja, o
desenvolvimento das forças produtivas capitalistas reforça as relações de
produção capitalistas. É uma possibilidade aparentemente atestada pela
realidade. Mas, se vamos por este caminho, perde-se uma espécie de esteio
econômico da revolução. É como se a humanidade se propusesse problemas que ela
não necessariamente pode resolver, contrariando o que Marx registrou no
prefácio citado. Exemplifico perguntando. Consigo pensar a superação do
feudalismo a partir da contradição entre forças produtivas e relações de
produção. Na sociedade feudal se desenvolveram forças produtivas que se
chocaram com as relações de produção. Mas o mesmo não ocorreu nem ocorrerá no
capitalismo? Não há, no modo de produção capitalista, contradição (produtiva,
do ponto de vista da produção social) entre forças produtivas e relações de
produção?
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Há quem considere que a questão central é justamente conter o desenvolvimento
das forças produtivas (como se fosse possível). Quem vai por este caminho pode
chegar a qualquer ponto, só não deve se reivindicar marxista. Marx pensa a
superação do capitalismo como o estabelecimento de relações de produção “novas
e superiores”. Qualquer coisa diferente disso seria impensável. O capitalismo
será superado pela positiva ou não será.
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Há quem considere que as forças produtivas deixaram de se desenvolver. É o que
registrou Trotski no Programa de transição, no final dos
anos 1930: “A premissa econômica da revolução proletária já alcançou há muito o
ponto mais elevado que possa ser atingido sob o capitalismo. As forças
produtivas da humanidade deixaram de crescer. As novas invenções e os novos
progressos técnicos não conduzem mais a um crescimento da riqueza material.” O
argumento encaixa com o trecho de Marx, mas está de acordo com o que se observa
no mundo real? É razoável afirmar que “as forças produtivas da humanidade
deixaram de crescer” a partir do final dos anos 1930? Quem vai por este caminho
precisa ignorar a energia nuclear, a nanotecnologia, a internet e as
possibilidades produtivas derivadas dela.
Antes
de prosseguir vale lembrar que, para Marx, o modo de produção capitalista foi
revolucionário porque permitiu um intenso desenvolvimento das forças
produtivas. Olhando de hoje para o passado podemos pensar, por exemplo, na
ampliação da produção agrícola, no aperfeiçoamento das formas de transporte e
comunicação, no desenvolvimento da medicina e da ciência, no aumento da
população e da expectativa de vida. Vão contra-argumentar, com razão, que a
maioria desses desenvolvimentos não são isentos de contradições, sendo a
principal a destruição ambiental que podem provocar. Mas não é este o ponto,
por aqui. Interessa-me registrar que o desenvolvimento das forças produtivas –
entendido como a capacidade social de produção – é inequívoco e razoavelmente
constate no capitalismo. E isso ocorre por uma determinação do próprio modo de
produção. Para sobreviver à concorrência, os capitalistas precisam explorar
cada vez mais a capacidade de gerar valor da força de trabalho. Produzir mais
com menos. O resultado final pode até ser a destruição do meio ambiente, é uma
possibilidade, mas que não altera o fato de que as forças produtivas se
desenvolvem cada vez mais. Também é verdade que no capitalismo se mantêm e se
relacionam formas de exploração extensiva (mais-valia absoluta) e intensiva
(mais-valia relativa), mas a dinâmica do sistema é determinada nos setores mais
avançados tecnologicamente, ou seja, que exploram a mais-valia relativa.
A
questão que sempre me intrigou passa por uma afirmação presente no mesmo trecho
de Marx: “Uma sociedade jamais desaparece antes que estejam desenvolvidas todas
as forças produtivas que possa conter”. Se é assim, teria o modo de produção
capitalista desenvolvido todas as forças produtivas que contém? A pergunta se
justifica porque na sequência Marx afirma que “relações de produção novas e
superiores” não se estabelecem sem que as condições materiais de existência
tenham se desenvolvido na própria sociedade.
Está
mais ou menos nesse ponto a questão que me intriga. A força de trabalho produz
cada vez mais. Observam-se seguidas transformações nos métodos e técnicas
produtivas que ampliam a capacidade social de produção. Ou, colocando em forma
de pergunta: a capacidade de produção da força de trabalho atual é superior se
comparada com os tempos de Marx? Se respondemos sim à questão formulada, surgem
outras: é possível afirmar que as relações de produção (capitalistas) se
tornaram “entraves” para o desenvolvimento das forças produtivas? Quais são e
onde estão as condições materiais que permitem o estabelecimento de “relações
de produção novas e superiores”?
Mesmo
considerando que a força de trabalho é o elemento central das forças
produtivas, mesmo considerando que o desenvolvimento destas passa pela
exploração intensificada daquela, o fato observável é que a capacidade social de
produção continua a se desenvolver. Ou melhor e em forma de pergunta, há
contradições entre as forças produtivas e as relações de produção capitalistas,
mas estas se tornaram um “entrave” para aquelas?
Em
Marx o revolucionário se confunde com o teórico, o que explica alguns limites e
muitas possibilidades. Não há pensamento revolucionário sem prática
revolucionária. Repetidas vezes Marx registrou que a revolução estava próxima.
Dificilmente poderia seguir por outro caminho. Não se luta sem certezas. Marx
era uma das principais expressões do movimento revolucionário de seu tempo, não
ocuparia a mesma posição caso considerasse a revolução como uma possibilidade
distante. Mas o fato é que o modo de produção capitalista se revolucionou
repetidas vezes e adiou o socialismo para os séculos posteriores.
Considerando
o grau de desenvolvimento das forças produtivas no tempo presente, partindo
principalmente capacidade crescente de geração de valor da força de trabalho, é
possível o
estabelecimento revolucionário de outras relações de produção. Mas é razoável utilizar os adjetivos
empregados por Marx? É possível pensar em relações de produção “novas e
superiores”? Se sim, seguindo Marx e considerando que as “relações de produção
novas e superiores” não se estabelecem sem que as condições materiais de
existência tenham se desenvolvido na sociedade, é preciso indicar quais são e
onde estão tais condições. E mais, é preciso pensar, a partir do atual estágio
de desenvolvimento das forças produtivas, o que seriam relações de produção
“novas e superiores”?
Enfim,
mantenho uma certeza: a superação do capitalismo passa pelo estabelecimento
revolucionário de relações de produção “novas e superiores”. Mas como? Se as forças
produtivas não entram em contradição com as relações de produção, se não se
tornam entraves produtivos: qual o limite do capital?
Notas
[1] Além
do trecho citado, no mesmo parágrafo Marx registra:
[...]
“O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social,
política e intelectual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser;
ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.” [...]
[...]
“a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver,
pois, aprofundando a análise, ver-se-á sempre que o próprio problema só se
apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em
vias de existir.” [...]
[...] “As relações de produção burguesas são a última forma antagônica do processo de produção social, antagônica não no sentido de um antagonismo individual, mas de um antagonismo que nasce das condições de existência sociais dos indivíduos; as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para resolver esse antagonismo.” [...]
Publicado originalmente no Passa Palavra