CONTINGÊNCIA
DO PAULISTANO
para
Carlos Drummond de Andrade
Oitenta
por cento de borracha no chão.
Noventa
por cento de fumaça no ar.
Cem
por cento de concreto no cidadão.
Cimento sobre os córregos,
carros
sobre avenidas,
viadutos
sobre todos os outros
e
gente abaixo destes.
No meio do caminho tinha um corpo,
tinha
um corpo no meio do caminho.
Mas
o homem atrás do terno passa apressado,
nem
ligando.
É preciso abrir caminho,
a
locomotiva vai passar,
precisa
passar,
o
carro precisa passar,
o
edifício precisa subir.
São
Paulo não pode parar.
Helicópteros entre as construções.
Gente
entre carros.
Carros
entre carros
(uma
pessoa em cada carro)
Um comentário:
vejo muito do drummond em vc, talvez até por tb ser grande fã da obra desse grande poeta, se bem que acho dificil alguem não o ser. Nesse poema é nitido a identidade que há com relação ao mineiro de Itabira, ele com sua confidencia do Itabirano e vc com sua Contingencia do paulistano.
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