NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma cidade
tinha uma cidade no meio do caminho
tinha uma cidade
no meio do caminho tinha uma cidade.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma cidade
tinha uma cidade no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma cidade
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Troquei "pedra" por "cidade" no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, que "com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas": combateu e denunciou a então Companhia Vale do Rio Doce. Como notou José Miguel Wisnik, com a privatização, primeiro a Vale retirou o Rio Doce do nome, depois o matou. Quem ia ao Parque de Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo, passava pela simpática Brumadinho, que era cortada pelo Rio Paraopeba: largo, vistoso, vivo. Ainda falta confirmar o óbito, mas o Rio Paraopeba deve ter sido assassinado pela lama, como o Rio Doce. Procurei entre as fotos que tenho mas não encontrei nenhuma do Paraopeba, talvez seja melhor ficar apenas com a imagem que guardo na memória. Abaixo um povoado visto do alto Parque do Inhotim. Não sei se as casas (da foto) foram cobertas pela lama, espero que não. De qualquer forma, ainda que o povoado da foto não tenha sido atingido diretamente, sabemos que novamente rios, peixes, bichos, cidades e pessoas foram assassinadas em nome dos lucros de um punhado de capitalistas (parasitas). No meio do caminho tinha cidade. Até quando?
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