Eram os saudosos anos 1980. Eu fazia catequese todo domingo às sete horas da manhã. As aulas terminavam às nove, quando começavam as missas, que devíamos assistir. O padre pregava no mesmo horário em que a televisão exibia jogos do campeonato italiano de futebol. Alguns moleques, eu entre eles, sempre davam um jeito de escapar das missas para assistir as partidas. Maradona jogava com a camisa 10 do Napoli. Sem nominar os pecadores, a professorinha de catequese lembrava que alguns não assistiam as missas, mas Deus estava vendo. Era quando os coleguinhas que sentavam nas primeiras carteiras olhavam para trás, nos encaravam e balançavam as cabeças em sinal de reprovação. Eu ficava preocupado porque conseguia fugir da professorinha, do padre e até dos coleguinhas caguetas, mas não de Deus. Pensei em confessar minhas fugas algum dia. Mas nunca assumi que trocava as missas de domingo pelo campeonato italiano. Precisava inventar algum atenuante que não elaborei em tempo. Não queria repetir a mesma desculpa dos outros moleques. Época de provas? Ajudar a família? Fazer feira para os velhinhos? O que dizer no confessionário? Depois cresci e entendi que Deus não estava preocupado com os moleques que fugiam da missa. Naquele tempo, Deus jogava futebol com a 10 do Napoli, ou então estava ocupado assistindo Maradona jogar com a 10 do Napoli.

 



Publicado originalmente na Revista Aroeira

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