As intervenções militares imperialistas se intensificaram: Afeganistão, Iraque, Haiti e Líbia estão sob bombas e botas invasoras. Por outro lado, diminuiu a resistência popular fora dos países atacados. Antes dos EUA invadirem o Iraque, em março de 2003, vinte milhões de pessoas tomaram as ruas do mundo para rechaçar a guerra imperialista por petróleo. Oito anos depois os EUA e a OTAN iniciam uma nova guerra, outra vez por petróleo, mas os gritos das ruas estão emudecidos.
A substituição da bestialidade de um Bush pela desfaçatez de um Obama não alterou em nada sanha imperialista, mas serviu para confundir muita gente. O “quem não está conosco está contra”, de Bush, foi substituído pela “guerra humanitária” de Obama, que, paradoxalmente, diz que bombardeia a Líbia para evitar que Kadafi o faça.
O contexto político em que explodiu a guerra civil na Líbia também contribuiu para embaçar as lentes de análise de muita gente. Depois dos levantes populares na Tunísia e no Egito, muitos pensaram que semelhante processo ocorreria em solo líbio, se enganaram. Na Líbia, diferentemente de seus vizinhos, o movimento já nasceu apoiado pelos serviços secretos imperialistas. Diferentemente dos outros países árabes, na Líbia o imperialismo imediatamente hasteou a bandeira da oposição, o fora da Kadafi.
Quando os setores anti-Kadafi se revelaram incapazes de derrotar militarmente o regime líbio, a OTAN não hesitou em se colocar como força aérea e primeira linha de ataque dos opositores. A retórica humanitária serviu para anuviar a coisa em si. O ataque foi vendido como necessário para proteger o povo líbio, e o pior, amplos setores, inclusive da esquerda foram enfeitiçados pelo canto rouco do capitalismo em crise.
Iniciados os ataques confirmou-se o logro. A bandeira hasteada pelo imperialismo era e é exatamente a mesma da oposição de Benghazi, o abaixo Kadafi. As bombas da liberdade despecam engorduradas de petróleo. O objetivo imperialista é substituir um governo por outro mais utilitário, para se abastecer com petróleo e ocupar setores da economia líbia, privatizando o que for possível. Em caso de vitória imperialista as conquistas sociais líbias das últimas décadas regredirão.
Apesar de tudo, neste momento em que as cartas já estão sobre a mesa e não a mais espaço para blefes, setores da esquerda insistem em engroçar o coro imperialista de fora Kadafi. Como se não bastasse, alguns cândidos esquerdistas se esforçam por enxergar revolucionários onde só há golpistas. A ação dos serviços secretos ocidentais em apoio aos líbios de Benghazi, a atuação da OTAN como força aérea destes e o pronto reconhecimento dos governos imperialistas aos golpistas não serviram para desembaçar as lupas de alguns cândidos esquerdistas.
O ataque imperialista à Líbia é mais uma guerra de exaustão. Trata-se de asfixiar o inimigo destruindo toda sua infraestutura logística e produtiva. Estradas, mídia, represas, hospitais... estão na mira dos mísseis da OTAN. O objetivo declarado dos imperialistas era apenas eliminar a força aérea de Kadafi, o que revelou-se mera peça de retórica, como sempre.
Como de costume, na Líbia os bombardeios midiáticos precederam os mísseis e caças. Foi imposta uma zona de exclusão midiática sobre a Líbia. Kadafi virou monstro e os seus opositores foram transformados em “rebeldes”, apesar de serem quase todos ex-funcionários do regime líbio.
O Haiti foi o tubo de ensaio da retórica imperialista. Os gritos de ocupação humanitária fluíram pelas garngantas das maquiladoras estrangeiras, interessadas na mão de obra haitiana, que é das mais baratas do planeta. Some-se a isso a possibilidade de exportar quase sem tributação para os EUA.
A peculiaridade da ocupação do Haiti é que o trabalho sujo coube principalmente aos países latino-americanos, interessados na raspa do tacho e em ocupar o posto de cães de caça do império. Brasil, Argentina, Bolívia, Equador e outros mandaram seus soldados para o Haiti.
É neste clima nublado e instável que surgiu o Comitê Antiimperialista e o ato contra as intervenções no Haiti e na Líbia. Sete anos após a ocupação do primeiro e dois meses e meio depois do início dos bombardeios sobre o país do norte da África, organizou-se o ato público de repúdio às intervenções imperialistas.
Apesar da dedicação dos lutadores engajados, não conseguimos construir um ato de massas. Estimo que a atividade agrupou cerca de cem pessoas no total. A marcha foi da Praça Ramos até a Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, e reuniu de setenta a oitenta pessoas.
Dialeticamente, o ato demonstrou a fragilidade e a dedicação das forças envolvidas. Por outro lado, politicamente foi uma atividade importante no sentido de furar o bloqueio midiático que encobre a Líbia e o Haiti. As palavras de ordem entoadas foram: “Fora já! Fora já daí! Obama da Líbia e Dilma do Haiti” e “Haiti, Líbia, Afeganistão. É o imperialismo massacrando o meu irmão!”
Enfim. Marcamos posição e registramos que nem todos compactuam com o bombardeio de Obama e com a Ocupação petista de Lula e Dilma. Para sábado 18.06.2011 está marcada a próxima atividade aberta do Comitê, um ato debate contra as intervenções bélicas imperialistas. Todos os lutadores internacionalistas estão convidados.
JC
Um comentário:
Belo artigo/comentário do companheiro "JC". Direto, objetivo e que toca nos pontos sensíveis, contrariando os "lugares-comuns" e o ufanismo.
Saudações vermelhas (de indignação)
Marcelo Chaves.
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